Atividade promovida pelo colega Pedro Miranda em articulação com a professora Rosalina Sampaio e a Biblioteca Escolar.
Palestra da Diretora do Estabelecimento prisional de Vila Real, Drª Celeste Martins para alunos de 7.º e 10.º anos.
Entre
a responsabilização e a esperança, há uma frase, sublinhada na
conferência-debate na Escola de São Pedro, que acompanha o acolhimento que a
Diretora do Estabelecimento Prisional de Vila Real, Dr.ª Maria Celeste Martins, faz a cada (novo) recluso:
“OS SENHORES SÃO PRESOS, MAS SÃO CIDADÃOS DE
PLENO DIREITO”
Em
Portugal, existem 49 Estabelecimentos Prisionais. Estes, distinguem-se em
função da segurança e da complexidade de gestão que implicam.
A
zona Norte do país conta com 6 Estabelecimentos Prisionais de Alta Segurança e
Complexidade de Gestão, sendo que, no concreto caso de Vila Real, temos uma
prisão de Alta Segurança, mas com nível médio de complexidade de Gestão.
No
dia em que a Diretora do Estabelecimento
Prisional de Vila Real, Drª Maria
Celeste Martins veio à Escola S/3 São
Pedro dar uma eloquente aula de Cidadania, encontravam-se detidas 85
pessoas, na instituição que lidera. Todas do sexo masculino. A prisão de Vila
Real chegou a possuir, ao longo da sua história, uma ala feminina, mas, a dado
momento da reorganização do sistema penitenciário nacional, as reclusas foram
concentradas no Estabelecimento Prisional de Stª Cruz do Bispo.
Entre
os detidos, 21 são presos preventivos e 64 condenados (com trânsito em julgado). Um dos detidos cumpre pena em dias livres (maxime, fim de semana). A faixa etária prevalecente no
Estabelecimento Prisional de Vila Real é a dos 35-50 anos, seguida da coorte
51-61 anos. Há um detido especialmente jovem, com 18 anos.
A
maioria dos presos, em Vila Real, encontra-se em tal situação em virtude,
sobretudo, do tráfico de droga – ou
crimes conexos (furto, roubo…). A violência doméstica – crime em crescendo – é outro dos delitos que
foram praticados, frequentemente, pelos presos do EP Vila Real. Os abusos sexuais conduziram, igualmente, à
prisão algumas das pessoas que ali encontramos.
Na
prisão vilarealense, 42 guardas
prisionais, 6 funcionários civis,
uma Diretora, 3 assistentes técnicos e 1 assistente
operacional, bem como 2 técnicos de
reeducação (atendem o recluso quando ele entra na prisão, ouvem-lhe os
problemas que estes pretendem ver resolvidos, despistam doenças) compõem a
equipa que gere e intervenciona aquele espaço. Quando entram para a prisão, os
reclusos são obrigados a procederem a uma bateria de análises, em especial um raio X pulmonar; trata-se, em uma
prisão, de uma comunidade fechada, pelo que, por exemplo, um problema de
tuberculose pode implicar um (perigoso) contágio (e a urgência de um
isolamento). A primeira pessoa a fazer a introdução ao novo ocupante de uma
cela no EP de Vila Real é o chefe de equipa (de um dos turnos) da guarda
prisional. São colocadas várias questões ao detido e, em 72 horas, é observado
pelos serviços clínicos (composto por um médico e enfermeiros). Durante 8 dias,
o novo recluso fica com uma certa restrição/reserva de movimentos – que virão a
ser, posteriormente, comuns – na prisão. Concluído esse período, a Diretora do
Estabelecimento Prisional fala com o detido e expõe-lhe as regras de
funcionamento da casa que, segundo a própria, são, necessariamente, “muito rígidas: há horários para tudo”, em resposta ao Código de Execução das Penas e do Regulamento Geral dos Estabelecimentos Prisionais.
Uma
frase que sempre acompanha a apresentação que a Diretora faz a cada (novo)
recluso: “Os senhores são presos, mas
são cidadãos de pleno direito”.
O
EP de Vila Real começa a funcionar pelas 7h30, e os primeiros detidos a verem a
sua cela aberta são aqueles que trabalham na cozinha e que, assim, irão
preparar os pequenos-almoços para os colegas; cerca das 8h da manhã são, pois,
tomados os pequenos-almoços, seguindo-se a medicação. Posteriormente, os
reclusos serão “fechados”, para a devida contagem dos mesmos (que ocorre duas a
três vezes ao dia). O almoço serve-se pelas 12 horas e o jantar às 18h. Há
aulas de 1º e 3º ciclos, Secundário, Cursos de Formação Profissional,
Projectos, Palestras, Acções de Formação, aumento de competências sociais e
profissionais dos detidos, Ginásio, Biblioteca, Bar para os reclusos. O EP de
Vila Real oferece 4 refeições diárias (pequeno almoço, almoço, jantar, ceia).
A
Diretora do Estabelecimento Prisional de Vila Real realçou, ainda, a relação
entre a estrutura física do edificado e o tratamento individualizado dos
reclusos – que tal possibilita (a Prisão de Vila Real é de tamanho não
excessivo). Só um comportamento extremado de um recluso, e ainda que contra a
vontade de quem dirige a Prisão, imporá a decisão de “10 dias de cela
disciplinar”, isto é, 10 dias nos quais um recluso estará em “cela disciplinar”
durante 23 horas (dia).
O
Chefe dos Guardas Prisionais do Estabelecimento Prisional de Vila Real, Chefe José Carlos, orador, igualmente, na
manhã de Cidadania e Desenvolvimento
na Escola de São Pedro, fez questão de sublinhar, junto dos alunos, a dupla
função assacada à pena de prisão: se, de uma banda, se trata de uma punição, da
outra, e essencialmente, visa-se a reinserção social da pessoa que cometeu o
delito – “esta é a nossa grande
motivação!”. Há um exercício de compreensão a empreender quando nos abeiramos
de um recluso: em muitos casos, cura-se de pessoas que chegaram à prisão “sem qualquer tipo de competências” e,
não menos grave, são cidadãos que, enquanto cumpriram a sua pena, “não foram visitados por uma única pessoa”.
Para o Chefe dos Guardas Prisionais, a mensagem é muito clara: “o início da luta pela liberdade começa no
dia em que o recluso ingressa na prisão”. A sociedade como um todo –
insistiu de modo pedagógico – tem que ser “mais
aberta” para a reinserção social (estará, por exemplo, um empresário, que
acaba de saber que uma pessoa saiu da prisão, na disposição de empregar alguém
que passou por esta situação?).
Acontece,
esporadicamente, os guardas prisionais serem agredidos, mas a norma é a
inversa: um grande respeito dos detidos pelos guardas prisionais.
Entre
a responsabilização que a dignidade de cada um inegavelmente reclama – o
pressuposto de algum grau de liberdade e responsabilidade de quem cometeu um
delito – e a procura de uma esperança, socialmente construída, de uma
integração real daquele que passou e cumpriu uma pena de prisão eis a manhã
concorrida e atenta, no mobilizado anfiteatro da Escola de São Pedro.
Pedro
Miranda
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