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Onésimo Teotónio de Almeida





Figura cimeira da cultura portuguesa, Onésimo Teotónio Almeida, Professor na Universidade de Brown, esteve em direto, a partir dos EUA (Rhode Island), com a Escola São Pedro, em 90 minutos de uma viagem a’O Século dos Prodígios portugueses e a um presente que se pretende de uma curiosidade crescentemente promovida nas escolas, atenção particular à língua materna, capacidade de comunicação, pensamento crítico para uma inserção frutuosa, de cada humano, único e irrepetível, no comércio com o mundo
Apenas na última década, com a emergência da “história global”, o contributo português para a ciência, em tempo de expansão marítima – em especial, os séculos XV e XVI – vem obtendo um maior reconhecimento da literatura da especialidade, em contexto anglo-saxónico, bem como em língua francesa. Até então, afora o Gama, de imediato submergido com os feitos de Colombo, o peito ilustre lusitano, muito cioso, no nosso país, dos seus prodígios era, em boa medida, ignorado, no que ao aporte ao espírito científico diz respeito – embora não já assim, quanto a Camões, entre os literatos – além-fronteiras. Ora, se desde a Antiguidade Clássica, em especial com o “biólogo” Aristóteles (que dissecava os animais após a morte destes), a empírea é valorizada (ainda que por contraponto ao Platão de “Fédon”, que reclamava da necessidade de um movimento de ascese, para o mundo das Ideias Puras, sendo a realidade que habitamos simulacro e o corpo cárcere da alma); se, na Idade Média, em um conjunto de casos (isolados), os sentidos são relevados; se, a partir de Francisco de Assis, e da sua contemplação dos vestigia dei, se valoriza o mundo, em um tempo que parecia ser apenas de preparação para o que se daria em uma outra dimensão (no pós-mortem), ainda que sem pensar em transformá-lo e, nesta esteira, um franciscano, como Roger Bacon, ainda no século XIII, colocasse a ênfase no empirismo, um conjunto de “homens selectos” portugueses (mesmo que sem existência de uma Escola de Sagres), de Pedro Nunes a Duarte Pacheco Pereira, irão contribuir, de modo muito relevante, para o erigir de um método científico que passa pela recepção nos sentidos, pela qualificação do que estes recolhem, pela formulação de hipóteses, testagem, teorização. Os portugueses avançam, nos séculos XV e XVI, em inúmeras expedições, e, em todas, recolhem elementos que apurarão com especial cuidado (anotando, conservando, testando, aproximando hipóteses, formulando teorias). A tecnologia será a aplicação desta ciência nascente, em uma prática que nos colocará na dianteira, por exemplo, na náutica.
Assim, Onésimo Teotónio Almeida sublinhando elementos essenciais da sua obra em apresentação, “O século dos prodígios”, perante uma atenta plateia constituída por 100 membros (digitais), entre Professores e alunos da Escola Secundária São Pedro, na tarde de 16 de Março. O Professor na Brown sublinharia, ainda, a propósito da Expansão Marítima Portuguesa que se o nome “Descobrimentos”, embora também utilizado, por exemplo, pela Biblioteca Nacional do Brasil, causa engulhos e é entendida como pejorativa – evidentemente, os povos a que Portugal acedeu pela primeira vez há muito que estavam nos territórios a que nos abalançámos -, e muito embora o verbo “descobrir” não signifique “criar” e, de per se, não contenha nenhum elemento negativo para com outros povos – de resto, Onésimo chama “carta do deslumbramento” à Carta de Pero Vaz de Caminha sobre o “achamento” do Brasil (vocábulo, de resto, que gozará de preferência no país irmão, em este âmbito) -, então utilize-se uma outra palavra. Da nossa história, há sempre que contar quer os aspectos muito positivos que nela se testemunham – como este contributo para o espírito científico, por exemplo – quer os seus aspectos negativos – Portugal não criou a escravatura, é certo, mas não deixou de a desenvolver (e uma crónica como a da conquista da Guiné é especialmente marcante a este propósito e deve ser lida e conhecida). Para Onésimo Teotónio Almeida, um museu que trate devidamente de todo o material atinente a este período da história portuguesa – muito à imagem, a título paradigmático, da exposição, promovida pelo Professor Henrique Leitão, na Gulbenkian, intitulada “360 graus” – faz todo o sentido (mesmo que se lhe não chame “dos Descobrimentos”, em uma tradição, a nossa, que faz das palavras um permanente cavalo de batalha).
O cuidado com a língua materna, a capacidade de comunicação, escrita e oral, o domínio de textos e de um posicionamento crítico acerca dos mesmos, a exposição a diversas disciplinas – na Brown University os alunos podem escolher de um leque de 2500 “cadeiras” -, seja no rasgar de horizontes, seja na possibilidade de os alunos, aos 17 ou 18 anos, idade em que “ainda não sabem o que querem fazer na vida”, irem inteirando-se sobre o que pretendem para o seu futuro. Cadeiras “específicas” que um aluno terá, no College, serão apenas 1/3 do currículo universitário (nos outros 2/3 o aluno de Direito ou Medicina, formação completa de 7 e 9 anos respectivamente nos EUA, por exemplo, poderá optar por estudar a estética das borboletas ou mandarim, conquanto a sua curiosidade seja sempre estimulada, e sendo que em cursos de letras, em cada cadeira, se prevê a leitura de um livro por semana, respectiva análise e detalhe, postura crítica, o que em Portugal, quando Onésimo – que postulou tal metodologia para o nosso país, “mas um homem sozinho não consegue mudar tudo” - é convidado para ir ao Ensino Superior, dificilmente encontra paralelo, dado os interlocutores, que pretensamente teriam lido a obra marcada, e a iriam discutir com o Professor, sempre sustentarem a enésima desculpa para não terem procedido como acordado).
Pedro Miranda

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