Atividade de leitura em voz alta. 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta.
Breves notas sobre a censura durante o Estado Novo
O regime ditatorial de 1926 a 1974 suprimiu todas as liberdades democráticas incluindo a liberdade de imprensa estabelecendo a censura aos jornais, livros e espectáculos, nomeadamente o cinema e o teatro.
Muitos foram os autores que viram os seus livros apreendidos ou foram presos, como Soeiro
Pereira Gomes, Aquilino Ribeiro, José Régio, Maria Lamas, Rodrigues Lapa, Urbano Tavares
Rodrigues, Alves Redol, Alexandre Cabral, Orlando da Costa, Alexandre O´Neil, Alberto
Ferreira, António Borges Coelho, Virgílio Martinho, António José Forte, Alfredo Margarido,
Carlos Coutinho, Carlos Loures, Amadeu Lopes Sabino, Fátima Maldonado, Hélia Correia, Raul
Malaquias Marques, entre muitos outros.
Alguns autores começaram, então, a usar termos metafóricos: em vez de Socialismo,
escreviam Aurora, em vez de Revolução, escreviam Primavera, em vez de Polícia,Vampiro, o que tinha o condão de tornar muita da prosa que se escrevia em textos poéticos que alguns recordam, paradoxalmente, com nostalgia. Um poema de David Mourão Ferreira, celebrizado por Amália Rodrigues como o Fado de Peniche termina com Ao menos ouves o vento! - Ao menos ouves o mar, sendo todo o poema uma referência ao sofrimento dos presos políticos no Forte de Peniche à beira mar, que sofriam por vezes em situações de extrema angústia e de tortura. Por outro lado, esta linguagem cifrada criava nos leitores uma atitude de hipercriticismo – duvidava-se de tudo o que se lia, procurando-se apreender segundos significados até onde eles não existiam.
Durante o Estado Novo, Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno
viram-se envolvidas num processo judicial que ficou famoso devido à publicação da sua obra
conjunta Novas cartas portuguesas, que conteriam partes pornográficas e imorais - hoje é
consensual que a obra faz apenas uma crítica mordaz ao patriarcalismo lusitano e à condição
da mulher em Portugal (Em que refúgio nos abrigamos ou que luta é a nossa enquanto
apenas no domínio das palavras).
Em 1965, a Sociedade Portuguesa de Autores teve a ousadia de atribuir o «Prémio Camilo
Castelo Branco» ao escritor angolano Luandino Vieira, pelo seu livro Luuanda. Luandino cumpria, na altura, uma pena de 14 anos de prisão, no Tarrafal, sob a acusação de terrorismo
(lutava pela independência de Angola). A consequência foi a extinção da Sociedade, por
despacho do Ministério da Educação, e da vandalização da sua sede em Lisboa. A notícia foi
proibida em todos os jornais. Jaime Gama, que escreveu um artigo sobre o assunto no jornal
Açores, que depois se transformou no Açoriano Oriental, foi, por isso, preso pela PIDE.
Abandono
Letra: David Mourão Ferreira
Música: Alain Oulman
Intérprete: Amália Rodrigues
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.
Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Censura_em_Portugal
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