Uma civilização de tipo 1 é também dita
planetária, porque controla todas as fontes de energia de um planeta. Controla, por exemplo, toda a luz do sol
que atinge o seu planeta, controla e meteorologia. Dentro de apenas 100
anos, chegaremos a esse estágio. É muito fácil calcular a produção total de
energia de uma civilização de tipo 1. Ao fazê-lo, percebemos que nos tornaremos
uma civilização planetária por volta do ano 2100. Depois, quando passarmos a
dominar todo o poder energético de uma estrela, teremos uma civilização
estelar, ou de tipo 2. Poderemos então brincar com as estrelas. Para dar um
exemplo, o Star Trek [Caminho das Estrelas], com a sua
Federação dos Planetas Unidos, podia potencialmente formar uma civilização de
tipo 2. O próximo passo são as civilizações de tipo 3, semelhantes às de A
Guerra das Estrelas. Cada civilização está separada da anterior por
um fator de cerca de dez mil milhões: tomando a potência energética de uma
civilização multiplica-se por dez mil milhões e obtém-se a potência energética
da civilização seguinte. (...)
Estamos prestes a tornar-nos uma
civilização de tipo 1. A internet é a primeira tecnologia de tipo 1 que
tem uma dimensão verdadeiramente planetária, é a primeira a espalhar-se por
toda a Terra. Para onde quer que olhemos, observamos culturalmente a prova
dessa transição. É por isso que a internet é tão importante. Uma
civilização de tipo 0 ainda transmite toda a selvajaria ligada à sua recente
saída do pantanal. A nossa continua marcada pelo nacionalismo, pelo fundamentalismo...Mas
quando chegarmos ao estágio de uma civilização de tipo 1, teremos eliminado a
maioria desses problemas. Quando chegarmos ao tipo 2, tornar-nos-emos
imortais: nada cientificamente conhecido destruirá uma civilização de tipo 2.
(...)
Até ao final do século, vamos ser capazes
de nos digitalizarmos. Tudo o que sabemos sobre nós próprios - a nossa
personalidade e até mesmo as nossas memórias - será convertido em dados
digitais. Neste momento,
o Human Connectome Project, que o Presidente Obama ajudou a lançar, está a
trabalhar no mapeamento de todas as conexões internas do cérebro.
Cada um de nós deixa já uma pegada
digital. Todas as nossas transações com cartões de crédito, as nossas
fotografias no Instagram, os nossos vídeos...Isso representa já uma
significativa informação digital. Mas perto do final do século, será o
próprio cérebro que vai deixar a sua marca. Vamos ser capazes de criar uma
imagem compósita de quem somos. Vamos poder digitalizar essa
imagem, carregá-la num feixe de laser e enviá-la para a Lua. Num segundo,
estaremos na Lua, em vinte minutos chegaremos a Marte, num dia acercamo-nos de
Plutão e em quatro anos estaremos perto das estrelas. Sem termos de nos
preocupar com reatores de foguetões, sem risco de acidentes, efeitos da falta
de peso ou raios cósmicos. Vou ao ponto de dizer que acho que isto já existe.
Que há extraterrestres muito mais avançados do que nós, que não se enlatam em
discos voadores. Os discos são muito datados, são mesmo muito do século XX!
Não, eles já se lasertransportam. É possível que exista uma autoestrada de
laserportação muito perto da Terra, através da qual milhões de seres se
laserportam através da galáxia, mas somos demasiado estúpidos para perceber
isso. (...)
Acima de tudo, o que deve ser
entendido é que já estamos hoje a transformar a Terra: a terraformação é uma
realidade. [Quanto a Marte], podemos avançar por etapas. Primeiro,
utilizando metano para aquecer um pouco a atmosfera. A segunda etapa será a de
instalar painéis solares para derreter as calotas polares. Uma vez que a
temperatura tenha subido seis graus Celsius, desencadeia-se uma reação
desenfreada. O aquecimento acelera. É só isso o que é preciso fazer: aquecer o
planeta cerca de seis graus. Atualmente, estamos a aquecer a Terra um grau e
nem sequer temos consciência disso. Mas em Marte, teremos de elevar a
temperatura conscientemente cerca de seis graus.
Depois, evidentemente, teremos de tornar
Marte habitável, com plantas geneticamente modificadas para poderem vingar na
atmosfera marciana, composta por altos níveis de dióxido de carbono. Teremos
também de explorar o gelo, para produzir água, e procurar combustível para os
nossos foguetões. Modificar geneticamente certas plantas, para que cresçam e
nos alimentem, e derreter as calotas polares. Estaremos em condições de iniciar
este processo dentro de uns 100 anos. Ninguém considera que possamos fazer isso
no imediato, mas será possível dentro de um século; depois de instalada uma
colónia em Marte, poderemos iniciar esse processo. (...)
Em 1967, se lhe dissesse que um dia o
Homem construiria o seu próprio foguetão e iria colocar a sua bandeira na Lua,
para reivindicar uma parte dela, acharia que estava maluco. E já chegámos aí.
Milhões de pessoas assistiram ao lançamento do foguetão Falcon Heavy [lançado
pela SpaceX, em 6 de Fevereiro de 2018]. Era um foguetão lunar. Quanto custou
aos contribuintes? Nada. Nem um cêntimo. Ninguém podia prever isso em 1967. É
por isso que precisamos de novos tratados. Porque a China, por exemplo, também
se está a preparar para ir à Lua; já anunciou que vai implantar lá a sua
bandeira. As empresas privadas acabarão por ir também à Lua, mais cedo ou mais
tarde. É que não é muito complicado ir até lá. E é por isso que precisamos de
tratados. No futuro, as pessoas irão passar a luz de mel à Lua. Vai tornar-se
uma atração turística.
(...)
Um dia [o Universo] vai ficar tão grande e
tão frio, que a vida não será capaz de subsistir. Desaparecerá toda a vida da
superfície da Terra. Portanto, a minha posição é a de que, como o Universo está
destinado a morrer, devíamos sair dele. (...)
De toda a vida formada na Terra, 99,9% já
se extinguiu. A extinção é a norma. Nós pensamos que a Mãe Natureza é doce e
carinhosa, mas ela também sabe ser selvagem e indiferente. A Natureza não se
importa que nos tornemos uma simples nota de rodapé da história da vida. Dito
isso, acho que somos diferentes dos 99,9% das formas de vida que desapareceram.
Os dinossauros não tinham um programa espacial e é por isso que eles não estão
hoje aqui. Eles fazem parte dos 99,9%. Quando o asteroide atingiu a Terra, eles
não sabiam como reagir. Nós temos um programa espacial, para podermos
desenvolver um plano de emergência.
entrevista realizada com Michio Kaku, Físico
norte-americano, Professor de Física Teórica no City College, em Nova Iorque,
pela revista 52 Insights (09-04-2018), e traduzida e publicada
pelo Courrier Internacional, nº269, Julho de 2018, pp.60-65. O
autor tem publicado inúmeros livros, traduzidos para português, e que fazem
parte do Plano Nacional de Leitura.
Pedro Miranda
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