Atividade dinamizada pelo professor Pedro Miranda
João Branco
seriamente preocupado com as alterações climáticas
Presidente da Quercus na Escola S/3 São Pedro: o “fim
do mundo” deslocou-se do discurso religioso para uma quase constatação
“científica”
O
“fim do mundo” tinha, na infância transmontana de João Branco, um frémito “religioso” que se transmutou, na idade
adulta, profissional e de militante das causas da natureza em grito
“científico”: a Terra, nossa Casa Comum, está em risco. E, ainda assim,
paradoxais se nos apresentam as reacções tanto indiferentes – apesar de tudo, a ameaça (que paira sobre o planeta
que habitamos), a muitos, ainda surge como remota - pelo menos “para si, para a
sua família e comunidade” – quanto desesperadas
– as consequências, da diminuição das espécies, até à falta de recursos como a
água, por exemplo, adquirem, não raro, uma feição apocalíptica.
O
Presidente da Quercus veio à Escola
S/3 São Pedro, a 12 de Abril, fazer um balanço dos avanços e recuos que o
pós-Cimeira (do Clima) de Paris (2015) tem revelado. Este é o tempo de perceber
se os compromissos assinados, há cerca de três anos, têm sido cumpridos; se
tais compromissos se revelam, hoje por hoje, bastantes na mitigação do
aquecimento global; como reagir à denúncia dos Acordos pelo Presidente dos EUA,
Donald Trump, à menor ambição na
diminuição de emissão de gases com efeito estufa pelo novo governo alemão, até
ao espaço para algum optimismo na expansão global do aproveitamento solar.
Os
alunos do 9ºano, de EMRC, haviam visto e reflectido sobre o mais recente
documentário cujo argumento AlGore
assinou – Um sequela inconveniente –
verdade ao poder (realização de Jon
Shenk e Bonni Cohen). Tomaram
nota das principais linhas programáticas do importante documento do Papa Francisco, em termos ambientais, a
encíclica Laudato Si. Agora, com o
especialista, professor por uma tarde, powerpoint detalhado, percebiam que
enquanto a selecção das espécies,
descrita por Darwin, se modelava de
forma “lenta”, o actual ritmo é frenético, sendo que há imensas “plantas e animais domésticos em
desaparecimento”, “a variedade
agrícola” está posta em causa: ora, “se
houver uma doença, se eu apenas tiver um clone, e caso apareça um fungo que
ataca aquela específica qualidade de feijoeiro”, por exemplo, nada mais resta. Do mesmo modo, o “solo está em perigo”, dado que se
“constrói em cima de solos agrícolas” e/ou estes “são mal lavrados”. Pescamos mais peixes do que aqueles que
“são regenerados de forma natural” pelo mar. A Universidade de Washington
considerou, no ano passado, que a temperatura subir “apenas” 1,5 graus,
objectivo de Paris para o médio prazo, é praticamente impossível. Em Portugal, o Instituto Dom Luís aponta
para a subida de cerca de 5 graus para a temperatura máxima em Bragança, face
aos dias de hoje, em 2100. Com a subida, imensa, da temperatura, os corais
ficam em cheque. A desertificação do território português, em cerca de 30%,
outro problema, que confina com a questão económica: que será da cortiça ou do
vinho que tanto exportamos e que tanto emprego gera, fixando populações? Vamos precisar de nos adaptar, por um lado,
e, por outro, tentar mitigar, com recurso a novas tecnologias, as alterações
climáticas. É o facto de nos encontrarmos na Periferia do Sahel que faz com que
Portugal e a Península Ibérica se encontrem entre os territórios mais afectadas
pelas mudanças climáticas em curso. Não conhecemos, ainda, com exactidão as
consequências de um aumento potencial da temperatura em 4 graus (questão que um
aluno colocou), nem se a ideia de passarmos a ter “duas estações” apenas não
passa de um “mito urbano” (como uma outra colega da turma questionou). Sabemos que as alterações climáticas se
repercutem em ondas de calor, aumento dos níveis do mar, precipitação,
temperatura, ou fogos florestais. Ou que, em Trás-os-Montes, temos 200 a 300
lobos – que se encontram, possivelmente, em risco de extinção. O planeta, hoje com 7 mil milhões de
habitantes, terá 9 mil milhões em 2040/2050. Se em 2017 os recursos foram
gastos até Agosto, de aí em diante tendo nós que recorrer à nossa “conta a prazo”,
muito estilo de vida – da quantidade de carne que comemos, da água que
gastamos, dos transportes que importa partilhar – terá que mudar, sendo que
alguns não crêem, sequer, que os comportamentos individuais desempenhem aqui
demasiado peso estatístico na transformação a operar (que dependerá muito mais
dos compromissos dos principais Estados). Positivo, em todo o caso, perceber
que Estados como a índia ou a China, que durante anos pensavam que estes
compromissos nada tinham que ver com eles, hoje terem vindo à mesa das
negociações e subscrito o Acordo de Paris,
com mais de 170 países.
Mas
pelo ritmo a que as alterações drásticas se registam, mesmo a nova viagem a
Marte, prometendo colonizar um novo planeta parece ainda insuficiente para
travar a nossa tendência depradadora.
Pedro Miranda
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